Apenas 1% dos livros publicados no Brasil são em braile
- Dia 4 de janeiro comemora-se o dia mundial do braile; no Brasil, ainda há muito a ser feito quanto à alfabetização e difusão desse sistema de comunicação
Na próxima terça-feira, 4 de janeiro, comemora-se o dia mundial do braile. O objetivo da data é chamar a atenção da sociedade sobre a importância da inclusão social aos deficientes visuais, sobretudo na escrita e no acesso aos livros.
A data ganha um peso ainda maior quando se trata de Brasil. Por aqui, apenas 1% dos títulos comerciais são publicados em braile, explica Renata Millego Campoi Martins, coordenadora pedagógica da Asac (Associação Sorocabana de Atividades para Deficientes Visuais), administrada pelo Banco de Olhos de Sorocaba (BOS).
“É direito do estudante com deficiência visual ter acesso aos materiais adaptados, segundo a Lei nº 7853/89. Os que estão estudando recebem os livros didáticos em braile, mas apenas 1% dos outros títulos são impressos para deficientes visuais”, lamenta a coordenadora pedagógica.
De acordo com os dados oficiais mais recentes sobre deficientes visuais no Brasil, do Censo de 2010, cerca de 46 milhões de brasileiros possuíam algum tipo de deficiência visual naquele período, ou seja, cerca de 24% da população tinham alguma dificuldade para enxergar. Desses 24%, se considerados aqueles que não conseguiam ver de forma alguma ou que tinham grande dificuldade, o índice caía para 3,4%, o equivalente a 6,5 milhões de pessoas. Desse total, 582,6 mil eram incapazes de enxergar.
É o caso de Luiz Carlos Queiros Junior, deficiente da categoria baixa visão, que há três anos e meio trabalha no BOS e recentemente foi transferido para a recepção da Asac. Ele conta que começou a aprender braile no final de 2013, na Asac, o que facilitou muito na sua independência do dia-a-dia. “Antes eu abria a caixa de remédios, por exemplo, e não sabia identificar qual eu precisava tomar. O braile me possibilitou essa autonomia, essa liberdade”, comemora Luiz.
A ASAC existe desde 1969 e hoje é referência para habilitação e reabilitação de pessoas com deficiência visual. As aulas de braile foram instituídas no ano de 1987 e atualmente a instituição atende 32 pessoas para alfabetização nesse sistema.
Cada assistido tem as aulas uma vez por semana, em grupos ou individualmente. A Asac oferece materiais que são exclusivos para a escrita e leitura em braile, como a máquina de datilografia, regletes, folhas com gramatura especial, impressora e livros.
Renata conta que o tempo de aprendizado do braile varia de pessoa para pessoa, dependendo de suas experiências, estímulos e motivação. “No caso da escrita braile, o entendimento é mais rápido (desde que não tenha outra deficiência associada), por volta de um mês. Já a leitura é algo constante, necessitando muito treino para se tornar dinâmica. É como a escrita e a leitura convencional: quanto mais você tem experiências, conhecimentos, treinos, práticas, melhor você lê”, esclarece a coordenadora pedagógica.
Para estimular a prática da leitura, a ASAC oferece um acervo com mais de mil livros, aberto à população em geral, onde é possível encontrar autores como Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato e Machado de Assis. “Utilizamos o sistema de empréstimo de livros, seja em braile ou em áudio livro, por um período de um mês, podendo este período ser prorrogado”, conta.
Outra opção para o empréstimo gratuito é a Biblioteca de São Paulo Louis Braille, aonde o livro é enviado ao solicitante (tem que ter um cadastro prévio) e depois este é retornado pelo cecograma de forma gratuita.
“Interação, aprendizagem, relacionar-se e competição são condições que o deficiente visual terá utilizando-se de oportunidades (que nós, família e sociedade proporcionamos) de forma a avançar no desenvolvimento de suas capacidades e potencialidades, com vista ao exercício de sua cidadania. Portanto, celebrar este dia é de suma importância e, que mais pessoas possam tomar contato e ter acesso ao Sistema Braille”, finaliza Renata.
CURIOSIDADES SOBRE O BRAILLE
– O braile utiliza a combinação de seis pontos que formam 63 caracteres em relevo;
– A cela braile é formada por duas colunas de três pontos;
– Há combinações para a representação de letras, números, símbolos científicos, notas musicais, fonética e informática;
– O braile é utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão, e a leitura é feita da esquerda para a direita, utilizando-se uma ou ambas as mãos;
– Cada página em tinta corresponde a aproximadamente três páginas em braile;
– O braile também pode ser escrito à mão, utilizando uma ferramenta chamada reglete e outra chamada punção, que funcionam como caderno e caneta;
– A escrita manual deve ser feita da direita para a esquerda para garantir o relevo ao virar o papel que foi puncionado;
O Banco de Olhos de Sorocaba (BOS) e o Hospital Oftalmológico de Sorocaba (HOS) ficam localizados na Rua Nabek Shiroma, 210, no Jardim Emília. Mais informações podem ser obtidas pelo site: www.bos.org.br ou pelo telefone: (15) 3212-7000.